Os braços estavam trêmulos, o rosto desenhava bem as marcas do tempo e o cansaço.
Camiseta, chinelos de plástico, bermuda e três latas de tinta, pintadas e escritas em letras grandes: TABOCA.
Parou e, talvez pela milésima vez, retirou as latas das costas com tanta dificuldade que fiquei constrangida por não fazer nada.
Não sei o seu nome nem onde mora, mas consegui conhecer tanta coisa, naqueles minutos esperando o ônibus.

Depois de um longo tempo esperando um ônibus que não viria, pois foi retirado de circulação, decidi pegar o primeiro ônibus e depois um segundo até chegar ao meu destino.
Quando entrei e o ônibus arrancou, ao tentar pagar, percebi que meu passe não estava funcionando. Distraída, tive que descer no próximo ponto, que ficava numa grande ladeira, e voltar até minha casa.

Quando fiz isso, me deparei, mais uma vez, com aquele senhor descendo a ladeira. Meu coração apertou. Fiz uma oração a Deus.
Minha oração foi atendida e, naquela mesma noite, fui chamada para um estágio na Defensoria Pública do Estado da Bahia, na Especializada em Direitos Humanos – Pessoas em Situação de Rua.