Após o “parcelamento do fim”, chegou o momento da despedida.
É que o excesso de esperança me fez entrar nesse financiamento do sofrimento — e eu acabei pagando com juros.
Mas paguei. Não devo absolutamente nada.
Na verdade, esta carta quita a última prestação e deposita em mim todo o amor que tanto me era devido.
E chega dessa coisa de me cobrar por dívidas que não são minhas.
Hoje, eu me permito ir.
Com uma mão na frente e a outra atrás, nua.
Sem rumo, com as vistas tomadas pelas lágrimas, sem nem mesmo conseguir enxergar o que está diante dos meus olhos.
Mesmo sem saber como será essa coisa de vida sem você — sem nós.
Pois é certo: cada pessoa revela uma versão de nós.
E, apesar de ao final levarmos um pouco do outro, é difícil nos despedirmos daquilo que só existe ali — no universo daquela relação.
Pois, depois do adeus, aquilo que você era naquela conexão morre.
E é isso que dói: despedir-se de quem se é.
Mas eu me despeço — e nada peço,
além de não me dar falsas esperanças.
Já que aquele mundo não existe mais,
e nós morremos para esta vida.
Então, eu me permito seguir.
Convicta do que fui.
Abandono risadas cercadas por silêncios dilacerantes, que rasgavam minha alma.
Abandono também essa mania de amar o outro sem medida, de tentar entender e curar dores que não são minhas.
Hoje, deixo de tentar iluminar caminhos alheios
e de sobreviver nas sombras que ficam para trás,
junto a qualquer coisa que tenha me tornado.
Hoje, eu permito que as pessoas cuidem das suas próprias dores — e das próprias sombras.
Quanto a mim, tal qual um passarinho, me cabe cuidar dessas asas — vê-las crescer —
para então, reaprender, aprender a voar.
Eu mereço viver esse amor que carrego no peito,
eu mereço ser realmente feliz.
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