Minhas asas gostam da força dos ventos e das novas paisagens;
Gostam da gota da chuva e da nova morada.
Gostam de sair semeando sem precisar colher;
Gostam de colecionar lembranças;
Sem bagagem, sem gaiola, sem amanhã.
Gostam das boas paradas e das boas risadas.
Gostam de apreciar o melhor de cada momento;
Sabem da sua brevidade, por isso vão.
Gostam de ir quando querem ir e raramente gostam de retornar, mas sempre retornarão.
Gostam de paraíso e, para isso, precisam logo partir.
Pois sabem que onde há demora, não há paraíso.
Gostam de colecionar bons verbos e de deixar para lá o que lhes faz mal.
Gostam de cantarolar com as suas pontas.
Gostam de todos os tipos de passarinhos e dos seus ninhos.
Gostam das árvores e das suas raízes;
Da folha que se destaca e vai.
Pousam onde há amor e, da sacada da janela, cantam alegres.
Gostam de se banhar nas poças d’água, logo após a tempestade;
E seguem tagarelas no ombro amigo.
Já viveram muito tristes numa gaiola e, por isso, gostam que as deixem voar.
Dão sempre uma nova chance, mas seguem sem bagagens, prontas para ir.